Entrevista com Cibelle [BR]

Mais informações
Como parte de nosso «FOCO EM RESIDÊNCIAS», convidamos u artiste brasileire Cibelle para responder algumas perguntas sobre sua residência no Atelier Mondial [CH] no final de 2020, para nos contar um pouco mais sobre suas experiências com VR e AR, o papel das residências na carreira de um artista e como o espaço digital pode responder aos tempos de incerteza em que nos encontramos.
Você poderia nos falar sobre sua trajetória e como você vê o papel das residências na carreira de um artista?
Tenho uma trajetória que tem navegado através das mídias e em seu campo expandido, bem como em suas interseções. O ready-made é uma grande parte do meu trabalho, e em minha abordagem, considero plataformas digitais, eventos e tendências da mídia social, bem como software, como um objeto encontrado, um ready-made carregado de conteúdo, além de ter o contexto atual também como um material…
Tomo o tecido da vida, com seus eventos sócio-político-econômicos e a existência do status quo, como matéria e meio a ser utilizado e subvertido como uma forma de resistência. Não tenho apego a nenhuma forma específica de execução; sempre darei o que o contexto completo necessita para tornar um trabalho eficaz e sucinto com meu olho na mudança social.
Minha política se revela na forma como os trabalhos são executados. Eu penso em termos não binários, no espaço liminar, em respeito a fluidez, contante mutacao e nuance. Da mesma forma que sou não-conformista de gênero, meu trabalho é não-conformista de gênero. Não é uma pintura nem uma escultura, estar sempre como algo entre, ou alem, e assim por diante. É amplamente conceitual, e na base, uso materiais, e a maneira como eles me guiam, em relação a eles como uma ferramenta de auto-estudo e investigação. Prefiro a consistência objetiva à consistência formal. Brinco com a formalização, negando sua imposição sobre como meu trabalho ” formalizou-se ” dentro do contexto da arte e da história. Dito isto, se eu tivesse que escolher uma prática formal para explicar meu meio, eu diria que estou na escultura, pois lido mais com a descoberta através do envolvimento com materiais do que tentando render uma imagem de qualquer coisa em particular.
Residências, como a COINCIDENCIA Pro Helvetia no Atelier Mondial, são importantes, pois proporcionam o espaço e o tempo necessários para rever a própria prática, ou para aprofundar um aspecto específico. Normalmente isto depende da duração do tempo. Períodos mais curtos são melhores para hiperconcentração.
Outra coisa importante é a conexão dos artistas a uma comunidade mais ampla, para expandir a conexão e o intercâmbio internacional.
Sem investir em residências financiadas para que artistas de todo o mundo possam interagir uns com os outros, a arte perderia muito.
A crítica construtiva que pode ser trocada em uma residência internacional não tem preço. A permanência em uma comunidade pode levar à cristalização da prática de uma forma ruim. Pode-se empatar. Estas residências facilitam a fluidez de uma prática, expondo-a a modos de pensar que o artista talvez não encontrasse em sua terra natal.
No contexto atual de isolamento social e distanciamento, como você vê as possibilidades de intercâmbio criadas por meios digitais? Como isso tem influenciado seu trabalho?
O isolamento e o distanciamento afetaram muito meu tempo na residência. Uma mente embaçada pela nebulosidade de uma pandemia não consegue fazer muita coisa para escrever e organizar. Por isso, optei por me concentrar mais no meu treinamento de RA e explorar mais o VR. Por sorte, eu tinha muito espaço fisico para me movimentar em VR sem precisar utilizar a funcaod e teleportar, então comecei a experimentar zonas autônomas temporárias em RV.
Nos últimos 3 anos, tenho trocado principalmente dentro de uma comunidade digital, e as possibilidades são tantas quanto você possa imaginar e além, desde que a tecnologia que conhecemos ser possível em teoria, seja realizada. São tempos extremamente interessantes devido à velocidade da informação e dos desenvolvimentos tecnológicos que permitem que a arte seja vivenciada apesar das longas distâncias físicas.
Meu trabalho tem sido momentaneamente sequestrado pela esfera digital, desde o trabalho com aprendizado de máquinas (machine learning) e retratos generativos, até as mídias sociais e esculturas sociais de realidade aumentada, até esculturas de som AR e experimentos sociais VR.
Estou ansiose para usar as ferramentas de escaneamento que foram recentemente disponibilizadas para trazer as peças executadas IRL para o digital e voltar para fora novamente.
Você poderia nos dizer um pouco mais sobre a criação de espaços digitais utilizando a tecnologia VR? Como você vê o impacto disso para aqueles que interagem com seu trabalho?
Os espaços sociais VR são realmente atraentes para mim, embora não possamos estar na rua em multidões de pessoas ou abrir uma exposição ou performance e ter centenas de participantes, em VR tudo isso é possível, porque os espaços sociais VR já têm uma população. Isto me faz não me importar tanto se as pessoas comuns que navegam fisicamente pelo mundo da arte podem não saber como acessar uma peça que está hospedada em um espaço social VR, já que lá haverá pessoas, leva-a a uma população que pode não estar acostumada a ir a museus, e portanto expande o acesso a arte em outras demografias.
Até agora, em VR, a peça «Are You The Media Player Owner» feita em AltspaceVR, é a principal para mim já que está em processo. Eu comecei o processo enquanto estava em residência na Basiléia. Enquanto estudava formas de construir mundos em VR, percebi que podia fazer um mundo onde pudesse dar permissão a qualquer pessoa que entrasse naquele espaço, para poder construir o mundo com elementos encontrados na biblioteca daquele espaço social em VR.
Foi feito como uma liberdade para todos, para observar o que acontece quando as pessoas, que foram amplamente isoladas e se sentem impotentes, recebem as ferramentas para construir e destruir, de acordo com sua própria vontade, mas em um contexto coletivo. Como interagimos, como nos importamos?
Quando fiz a primeira “apresentação” oficial deste projeto, logo após retornar da residência, ele foi organizado como uma conversa. Mais de uma viagem coletiva com uma conversa no final. Todos nós nos reunimos, e prosseguimos na experiência e depois tomamos um momento para conversar sobre como nos sentimos.
Sobre Cibelle

Mx. Cibelle Cavalli Bastos (1978, São Paulo, Brasil) Não binárie, Elu/Delus seus pronomes. Artista, músique, pesquisadore independente e ativista. Vive e trabalha entre Berlim, São Paulo e Londres. Formade em 2015 pelo Royal College of Art, Londres. Lançou quatro álbuns de música em todo o mundo sob “Cibelle” para Crammed Discs e já se apresentou e apresentou trabalhos em Martin Gropius Bau (Berlin-DE), ICA (Londres-UK), CCBB (São Paulo – BR), MASP (São Paulo-BR) Carnegie Hall (NY-USA), LCCA (Riga-LV), CAC Wifredo Lam (Havana-Cuba), Steirischer Herbst ( Graz-Austria), MdbK Leipzig (DE), Science Gallery London (UK) e colaborações na 28ª /31ª Bienal de São Paulo (SP-BR).