«Míasma Ficção» – viagem de pesquisa de Léa Katharina Meier a Nova Friburgo [BR]
Brasil — Viagens de pesquisa
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Em suas pesquisas sobre a colonialidade suíça, a performer Léa Katharina Meier [CH] cria novas narrativas nas quais o fracasso, a vergonha e o ridículo podem ser encarnados como um processo de cura.
Após uma pesquisa inicial sobre a construção da limpeza, realizada em 2019 em São Paulo, ela partiu para uma nova viagem: no início de 2022, ela foi para Nova Friburgo [BR], cidade conhecida como a Suíça brasileira. Com a ajuda de instituições, artistas e historiadores, ela mergulhou na história do lugar, onde colonos suíços chegaram no início do século XVIII, adaptando-se rapidamente à dinâmica de segregação racial que operava no Brasil da época.
Ela então conduziu uma série de entrevistas com moradores (quase todos brancos, cisgêneros, heterossexuais e ricos), investigando essa história colonial, o mito do Brasil suíço, o imaginário da limpeza e pureza suíças e a construção da brancura.
Léa recorda-se de ter sido bem recebida pelas pessoas que entrevistou, acolhida como uma “suíça de verdade” – “Você deve se sentir em casa em Nova Friburgo”, lhe diziam. “Mergulhar nessa brancura normativa, que também faz parte de mim e da minha história, conhecer essas pessoas foi uma experiência tão impactante quanto absurda. Absurda, mas real”, diz a performer. “Quase todos os descendentes de colonos suíços entrevistados tinham discursos violentos, conservadores, racistas e mostraram um grande orgulho de serem brancos (ou seja, superiores, melhores, mais puros, segundo sua visão).”
No final, o material mostra uma perspectiva colonizada e eurocêntrica sobre o processo de colonização suíça no Brasil. O mesmo processo, destaca Léa, no qual pessoas racializadas, indígenas e dissidentes de gênero foram apagadas.
“Como artista, foi a primeira vez que fiz pesquisa com pessoas com quem discordo fortemente”, diz ela. “Isso me levou a questionar muito sobre minha posição como artista e também de forma íntima. Ainda estou pensando em como conduzir esse tipo de projeto documental, respeitando as pessoas envolvidas na pesquisa, o público e a mim mesma.”
A viagem resultou no vídeo «Míasma Ficção», que deve ser lançado em breve. Trata-se de uma fabulação crítica e humorística com figuras típicas do imaginário coletivo suíço, como a estátua de William Tell, um queijo gruyère e um Míasma (odores putrefatos) atuando como narrador.
SOBRE
Léa Katharina Meier [CH] é uma artista visual que trabalha com performance, tecidos, desenho, vídeo e escrita. Em sua prática, ela se interessa pela ressignificação das noções de limpeza e sujeira e como esses são fatores determinantes na construção de gênero, raça e classe. Formada pelas universidades de arte de Berna e Genebra, ela já apresentou seu trabalho em vários teatros e espaços artísticos na Suíça. Desde 2018, ela também vem desenvolvendo projetos e colaborações artísticas no Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro). Em 2021, ela ganhou o Prêmio do Júri e o Prêmio do Público do Swiss Performance Award com a peça «Tous les Sexes Tombent du Ciel». Ela é membro do coletivo de tradução BRASA, que traduzo do português brasileiro para o francês.