Pauline Boudry & Renate Lorenz na Bienal de São Paulo [BR]
Brasil — Eventos![«Moving Backwards» [Mover-se para Trás], Pauline Boudry / Renate Lorenz, Exposição na 58ª Biennale di Venezia, Pavilhão Suíço ©️Annick Wetter](https://southamerica.prohelvetia.org/app/uploads/sites/20/2023/08/mooving-backwards-940x390.jpg)
Mais informações
Inspirada na cultura queer, a dupla Pauline Boudry e Renate Lorenz [CH/DE] brinca com o fluxo temporal e espacial. O duo de artistas trabalha com performances que combinam diferentes épocas e, com frequência, criam colaborações ilegítimas – em parte fictícias, em parte intertemporais.
Por meio de instalações cinematográficas, revisitam materiais recentes e passados (uma partitura, uma peça musical, um filme, uma fotografia ou uma performance), com foco especial em uma história crítica da própria imagem fotográfica e em movimento.
O duo participa da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, que acontece de 6 de setembro a 10 de dezembro de 2023 no Pavilhão da Bienal, e apresentam algumas videoinstalações:
Moving Backwards
[Mover-se para Trás]
A sensação de estar sendo puxado para trás por ações reacionárias recentes é o ponto de partida do trabalho, que explora práticas de resistência, combinando coreografia pós-moderna e dança urbana com técnicas de guerrilha e elementos da cultura underground queer. O filme é inspirado nas mulheres das guerrilhas curdas, que usavam seus sapatos voltados para trás para caminhar nas montanhas nevadas. Essa tática salvou suas vidas, já que parecia que elas estavam andando na direção oposta.
Com cinco artistas de diversas origens de dança, a videoinstalação complica a noção de movimentos invertidos e seu significado temporal e espacial. Partes das caminhadas, solos e danças em grupo são realizadas para trás, outras são digitalmente invertidas, criando dúvidas e ambiguidades ao longo do vídeo.
Instalação com HD, 23 min, 2019
Coreografia e performance: Julie Cunningham, Werner Hirsch, Latifa Laâbissi, Marbles Jumbo Radio, Nach
(No) Time
[(Sem) Tempo]
O modelo linear de tempo, seguindo um conceito de progresso, distanciando-se do passado e apontando para o horizonte do futuro, sempre esteve ligado à violência e à normalização. Como a ideia colonial de que alguns grupos estão atrás de seu tempo e outros, à frente. Ou projetar o futuro como uma fantasia de reprodução heterossexual. Assim, parece urgente criar um palco para algo além, e é esse o intuito do trabalho: pensar um modelo minoritário de temporalidade, em que os movimentos se conectam simultaneamente ao desespero político e à aspiração utópica.
Na instalação, quatro artistas parecem estar ensaiando para um tempo queer. A lentidão extrema, o movimento em círculos, a falta de sincronia, as mudanças de ritmos, a quietude e as pausas estão trabalhando em rotas de fuga. Os artistas empregam e muitas vezes misturam deliberadamente uma série de elementos de dança inspirados no hip-hop, no dancehall, na dança (pós-)moderna e na performance drag. Embora sejam visivelmente diferentes em seus estilos, eles se conectam por meio de semelhanças repentinas, movimentos assombrosos e memórias corporais, produzindo e mudando seus pontos de contato.
Instalação com HD e três persianas, 20 min., 2020
Coreografia e performance: Julie Cunningham, Werner Hirsch, Joy Alpuerto Ritter, Aaliyah Thanisha
Les Gayrillères
[As Gayrrilheiras]
Estar em foco, visível, é uma pré-condição política para reivindicar direitos. Mas os corpos queer, desviantes e racializados muitas vezes se tornaram hipervisíveis para serem examinados e policiados. Les Gayrillères (as «gayrrilheiras») podem aparecer à noite, em uma boate deserta, em uma área de encontros, à margem de uma manifestação, no porão de um museu, no subsolo. Elas se movem no escuro e em espaços de total luminosidade, onde as luzes ofuscantes oferecem um abrigo.
A coreografia mostra uma série de passos para uma guerrilha gay, com base no poder imprevisível dos corpos que se movem em conjunto, experimentando formas de união. Inspirados pelos escritos de Monique Wittig, os prazeres das Gayrillères são indivisíveis da tristeza da reação política: a violência sem fim nos espaços públicos e a retirada de direitos por governos autoritários. O direito à opacidade, o direito de desaparecer ou de controlar seus próprios graus de visibilidade é destacado pelos trajes dos artistas, que são as únicas fontes de luz em sua marcha, enquanto seu brilho ou é muito fraco ou muito intenso.
Instalação com vídeo de dois canais (projeção e LED), 18 min., 2022
Coreografia e performance: Harry Alexander, Julie Cunningham, Werner Hirsch, Nach, Joy Alpuerto Ritter, Aaliyah Thanisha
Imagens cedidas por Ellen de Bruijne Projects Amsterdam e Marcelle Alix Paris
SOBRE
Pauline Boudry e Renate Lorenz trabalham conjuntamente em Berlim desde 2007. A dupla produz instalações que coreografam a tensão entre visibilidade e opacidade. Seus filmes capturam performances em frente à câmera, geralmente começando com uma música, uma foto, um filme ou uma trilha sonora de um passado próximo. Eles perturbam as narrativas históricas normativas e as convenções de espectador, uma vez que as figuras e as ações são encenadas, colocadas em camadas e reimaginadas ao longo do tempo. Seus intérpretes são coreógrafos, artistas e músicos, com os quais mantêm uma conversa de longo prazo sobre as condições da performance, a história violenta da visibilidade, a patologização dos corpos, mas também sobre companheirismo, glamour e resistência.