«Textes à Lire à Voix Haute» – Coletivo BRASA
Brasil — Troca de conhecimentos
Mais informações
Como o título sugere, «Textes à Lire à Voix Haute» (Textos para Serem Lidos em Voz Alta) é formado por escritos que não se relacionam de forma passiva com seu leitor. São palavras que percorrem o corpo para se transformarem em gestos políticos.
O livro do Coletivo BRASA reúne ensaios, poemas, manifestos, peças de teatro, performances e outras formas literárias híbridas escritas por 15 autorxs brasileirxs contemporânexs cujas produções são comprometidas com lutas transfeministas, antirracistas e decoloniais: Ingrid Martins, Preto Téo, Monna Brutal, tatiana nascimento, Pacha Ana, Grace Passô, Castiel Vitorino Brasileiro, Lucas Veiga, Ricardo Aleixo, Miro Spinelli, muSa Michelle Mattiuzzi, Jota Mombaça, Pêdra Costa, Rebeca Carapiá e Elton Panambi. Os textos abordam as noções de cuidado e privilégio a partir de uma perspectiva de crítica decolonial.
Selecionados pelas curadoras abigail Campos Leal, Diane Lima e Cintia Guedes [BR], foram traduzidos do português brasileiro para o francês por Luana Almeida [BR], Valentina D’Avenia, Léa Katharina Meier e aurore zachayus [CH], e publicados pela Brook Editions – com o objetivo de promover perspectivas não eurocêntricas no mundo francófono. A edição inclui um texto de introdução das curadoras, além de um posfácio e um glossário das tradutoras.
Alguns desses trabalhos também resultaram no podcast «BRASA – La Traduction comme Geste Politique» (BRASA – A Tradução como Gesto Político), com textos de Castiel Vitorino Brasileiro, Jota Mombaça, muSa Michelle Mattiuzzi e Pêdra Costa, lidos por Nelson, Chienne de Garde, Sarah Baraka, Eytana Acher e Laury Habiyambere.
TRECHO
carne
Preto Téodeu meia noite a lua se escondeu
lá na encruzilhada
saudando seu tranca rua
bicha preta apareceume olha
vai, me olha
não, lindinho, eu tô mandando você me olhar mesmo
tô mandando você olhar pra minha carne
a ponto de enxergar os meu pêlos
enxergar a minha bocavocê vê, mesmo? ou você olha um par de lábios sacodindo no ar
enquanto raciocina se é menino ou menina
essa coisa erguida na tua frente
essa coisa que no teu crivo não sabe se avalia escura o suficiente pra pôr junto daqueles que
você fetichiza, estigmatiza, mutila, genocida
essa coisa que se remexe incomodando esse teu cu estático
analfabeto das múltiplas tecnologias afetivas do corpo que é livre
essa coisa que desfila na tua frente ocupando pélvis múltiplas, que geme agudo, pede tapa,
pede força, dá gostoso e você o que?você aí nessa tua punheta clandestina de banheiro público mijado fétido covil raso de outros
vermes castos, batizados, purificados na missa dominical da primeira hora transmitida na rede
globo
chair
Preto Téominuit a sonné la lune s’est cachée
là à l’encruzilhada
saluant son tranca rua
la bicha preta est apparueregarde-moi
allez, regarde-moi
non, mon joli, je t’ordonne de me regarder vraiment
je t’ordonne de regarder ma chair
au point de discerner mes poils
de discerner ma bouchetu vois, vraiment ? ou bien tu regardes, une paire de lèvres qui se secoue dans l’air
pendant que tu réfléchis si c’est un garçon ou une fille
cette chose érigée face à toi
cette chose dont tu ne sais pas si tu l’évalues de façon suffisamment obscure pour l’ajouter à ceux que
tu fétichises, stigmatises, mutiles, tues
cette chose qui se remue et qui dérange ton petit trou du cul statique et
analphabète des multiples technologies affectives du corps libre
cette chose qui défile face à toi occupant de multiples pelvis, qui gémit aigu, demande des fessées, demande plus fort, qui adore se faire prendre, et toi ?toi, là, avec ta petite branlette clandestine de toilettes publiques pisse fétide tanière remplie d’autres
vers chastes, baptisés, purifiés à la messe dominicale transmise en prime time sur la chaîne
globo
Trecho do poema «carne», de Preto Téo, traduzido do português brasileiro para o francês por Luana Almeida, Valentina D’Avenia, Léa Katharina Meier e aurore/a zachayus.