«The Gap» – Felinto [BR] e Simon Grab [CH] na Residência São João [BR]

Projeto sonoro colaborativo entre os músicos e ativistas Felinto [BR] e Simon Grab [CH], «The Gap» (a brecha) explora as histórias não ditas e os sons da diáspora negra. O trabalho é inspirado no conceito musical de feedback, ou interferência de circuito, e foi desenvolvido dentro do Somoscosmos, na Residência São João, um programa independente baseado em uma comunidade de fazendeiros e artistas ecológicos do estado do Rio de Janeiro.

Felinto, produtor brasileiro, multi-instrumentista e mediador em conflitos sociais, e Grab, artista sonoro da cena musical eletrônica suíça, baseiam seu trabalho coletivo na pedagogia das encruzilhadas. Este conceito, teorizado pelo pesquisador brasileiro Luiz Rufino, faz referência à cultura afro-brasileira e à divindade Exu, considerada um princípio explicativo do mundo em assuntos como comunicação, invenção, corporeidade e ética. Através de Exu, diz Rufino, encontramos cruzos (interseções), onde reside uma diversidade de conhecimentos, e aprendemos a trabalhar com imprevisibilidade, transgressão e resiliência.

Ao transgredir a norma cultural, «The Gap» visa trazer à tona o conhecimento à margem da produção “oficial” de arte. O projeto é inspirado nas manifestações da diáspora negra e busca resgatar a memória histórica das pessoas colonizadas, e a articulação de sua sabedoria.

Durante a residência, realizada em abril de 2022, Felinto e Grab desenvolveram sua pesquisa individual, fizeram gravações e colaboraram com o programa educativo de São João, apresentando seu trabalho e oferecendo uma oficina a crianças de uma escola pública. Ao lado da comunidade local – composta principalmente por afro-descendentes e pessoas que vivem em contextos periféricos –, a dupla explorou os limites da tradução, da invisibilidade e do não dito. As ações, portanto, tinham por objetivo não apenas examinar e registrar essas histórias, mas também contribuir para o pensamento crítico e a pedagogia da arte.

“Com o tempo, o projeto «The Gap» foi sendo percebido como um conjunto de ações que prescindem da palavra, um laboratório de prática decolonial atrelada ao contexto da arte sonora”, diz Felinto.

As gravações da residência devem dar origem a um álbum, que será lançado na página da bandacamp dos Somoscosmos.

SOBRE OS ARTISTAS

Felinto é produtor musical brasileiro, multi-instrumentista e mediador do grupo de estudo de ioga Corporeidade e Masculinidades. Ele também é cofundador do Sistema Negro, um coletivo de artistas e intelectuais negros localizado em São Paulo, cujas ações dizem respeito à mediação de conflitos e intervenções antirracistas no contexto social das comunidades negras. Como parte de seus estudos em mediação, ele oferece aulas de ioga para crianças. Como músico, ele estuda as manifestações do fractal na linguagem eletrônica. Participou de festivais de arte contemporânea, ciência e música experimental, tais como Campus Party, Exploratório, Festival Novas Frequências [BR] e VIDEOEX [CH].

Simon Grab é um artista sonoro e músico suíço que explora novos fundamentos, eliminando fronteiras assumidas. Em seu trabalho recente, ele se concentra na redução e na peculiaridade dos sistemas auto-referenciais. O álbum «Anthropocene Panic» (sound-space Records London) segue seu recente LP «Posthuman Species» e o EP «Extinction». Seu EP «Diamonds» em colaboração com o rapper togolês Yao Bobby e o Dhangsha da Asian Dub Foundation foi lançado na Bristol’s LavaLava Records. Os trabalhos recentes de Grab incluem «Hirnmusik 1 & 2», no qual ele mergulha profundamente no imaginário musical, transferindo suas ideias sônicas diretamente de seu cérebro para o vinil.